sábado, 11 de setembro de 2010

So vim para me despedir. - Conto

Sábado. A garota levantou-se como todos os dias. Abriu a janela e caminhou até a cozinha. Viu que apenas seu irmão ainda estava à mesa tomando café.Parecia estar chateado.Ela lhe cumprimentou, mas ele nao respondeu.
Decidiu sentar-se ao lado dele que tinha treze anos e ficou fitando-o  por um certo tempo.Ele estava de cabeça baixa e ainda com expressão de chateado, triste. Ela perguntou o que havia acontecido  mas ele não respondeu.Já estava habituada com aquela cena: todas às vezes qeu acontecia algo ele se fechava em um "mundo só dele".
Por alguma ocasião ela não sentiu  fome aquela manhã, o que fez com que ela mesma se estranhasse pois, todas as manhãs, tomava um café mais que reforçado.Decidiu, então, ir ao banheiro escovar os dentes e dar uma arrumada no cabelo, como toda mulher faz quando acorda.
Ela tinha estatura média, nao era magra, nem era gorda, era na medida certa. Como qualquer jovem de seus dezesseis anos, passava um certo tempo a encarar os seios que estavam em constante desenvolvimento. Ela até os achou bonitos naquela manhã.
Antes de chegar ao espelho, em um movimento, derrubou um copo que estava em cima da pia do banheiro.Era um copo de plástico que ela não sabia porque estava ali. Não demorou nem dois minutos o irmão estava adentrando ao banheiro. Deveria estar por perto e , ao ouvir o barulho, entrou para ver o que era.Nem sequer olhou para a irmã.
Não importava!Ela estava se sentindo bem naquela manhã e não seria a tristeza de seu irmão que iria atrapalhá-la.
Olhou um pequeno despertador que ficava no cantinho da parede bem em frente ao box. Invenção de seu pai, para que ninguem perdesse a noção de tempo ao entrar no chuveiro, e quem sabe sentir uma certa compaixão em economizar. Eram nove horas em ponto. Por alguma razão sua camisola parecia até mais confortável, e resolveu ficar com ela.
Foi até o quarto dos pais e notou que ainda havia alguém dormindo. Entrou, sorrateiramente,  no quarto e viu que a mãe ainda dormia tranquilamente. Beijou sua face. O pai, provavelmente, já deveria ter saído para o serviço. Saiu do quarto e deu de cara com o irmão.Ela afagou sua cabeça e rumou de volta ao quarto de onde saíra aquela manhã. A cama estava perfeitamente arrumada, mas a janela estava fechada. Julgou ter sido o irmão que arrumara a cama e o agradeceu pois ele havia ido atrás dela e parado à porta.Ela perguntou por que ele havia fechado a janela e foi até a mesma para abrir.Não conseguiu.
Olhou para o irmão na tentativa de que ele estivesse sorrindo como se tivesse feito alguma arte, mas um lágrima escorria pelo seu rosto. A garota então correu a abraçá-lo, mas ele se afastou. Veio o desespero.Perguntava o que havia acontecido, mas apenas ouviu o irmão sussurrar:
- Por favor vá embora. Não aguento mais te ver todas as manhãs, as mesmas coisas...por favor, vá embora!
Por que ele estava tratando-a assim? Que eles sempre brigaram era verdade, mas ela o amava e sabia que era recíproco.
- Descansa em paz por favor, eu tenho medo de te ver.
Descansa em paz? Medo? Ficou brava e perguntou o que estava acontecendo.
- Todas as manhãs você volta e só eu te vejo por quê? - sua voz saía abafada, e ao mesmo tempo tinha uma gota de medo como se nao quisesse acordar a mãe por ter deixado o vaso favorito dela cair.- Não lembra o que aconteceu né? Você não abriu a janela de manhã, pensou ter aberto. Você está morta!
Sentiu um gelo percorrer a espinha e o corpo todo. O irmão não parecia estar brincando. Ela se sentou na cama e não acreditava naquilo tudo. Olhou para o espelho onde costumava se olhar e não se viu. Morta? Como? Só conseguia se lembrar que havia ido a uma festa. Viu o ex-namorado com outra e ficou extremamente arrasada. Voltou para casa mais cedo. Lembrou-se de ter chorado um bom tempo enquanto vestia a camisola.Chorou até dormir.
- Já faz dois meses que você faz isso...volta todas as manhãs. Por favor descansa.Você sabe que eu tenho medo dessas coisas. Eu perdôo você e peço desculpa por não ter te visto aquele dia, não precisa voltar todas as manhãs para se despedir - chorava ainda mais e começou a rezar um Pai Nosso bem baixinho.
E as coisas foram aparecendo em sua mente como se fossem fatos que fizesse toas as manhãs. Em um dia ela levantou-se, abriu a janela e deixou a cama arrumada. O irmão havia saído. Ela andou a casa toda.Foi até a cozinha e pegou uma boa dose de veneno para cupins e colocou em um copo de plástico. Foi até o quarto da mãe, deu um beijo em seu rosto. Ao sair do quarto cruzou com o pai saindo da sala.Estava apressado para ir para o serviço. Ele deu-lhe um tchau apressado voltou para beijar a testa da garota e saiu. A garota foi ao banheiro, mistutou o veneno com um pouco de água e bebeu tudo.Sem querer deixou o copo cair no chão. O barulho não acordou a mãe. Voltou ao quarto correndo pegou um batom e escreveu no espelho do quarto o mais rápido que pode com medo de que o veneno fizesse efeito antes dela concluir;
" Amo todos vocês, principalmente o único homem a quem me entreguei e me decepcionou".
Depois disso caiu na cama e começou a passar mal. Abafou as tosses no travesseiro e aos poucos foi morrendo...
O irmão foi a única pessoa que ela não se despediu.Depois disto todas as manhãs a garota sempre volta para ver o irmão que neste instante, terminava a oração e via a irmã sumir em uma luz. Só ele via a írmã, mas a pouco tempo havia contado aos pais.Ouvia o copo cair.Com o passar do tempo começou ver a irmã andando de um lado para o outro, mas somente naquela semana, aniversário de dois meses da sua morte, ela chegara mais perto dele.Como tinha medo,ele mandava ela ir embora e ela ia. Naquela manhã, ele havia decidido ajudar a irmã a seguir o caminho dela e dizer que a perdoava, que amava ela e pedir desculpas por, justo naquele dia, ter saído mais cedo de casa.

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